quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O Corpo do Ator




"Meu corpo, ele próprio se move, meu movimento se desenvolve. Ele não está na ignorância de si, não é cego para si,  ele irradia de um si" (Merleau-Ponty)
O trabalho do ator é árduo, deve visar uma transformação sobre si mesmo em busca de tornar visível e palpável a invisibilidade interior. 
Ele vê, se vê e é visto. É necessário conhecer-se, um desejar transformar-se, um querer enfrentar-se. É preciso trilhar um caminho de autoconhecimento, de comunhão com o mundo e de expressão no e do mundo. Fazer teatro é, sobretudo, uma opção total de vida.
É importante estudar o corpo. E como foco de atenção, o corpo se potencializa no teatro e na dança, não apenas como seu principal instrumento de criação, mas também  como veículo de transmissão de informações. O corpo do ator deixa o registro de uma estética e, o teatro enquanto arte, também tem o poder de demonstrar e até mesmo impor novos modos de ver.
O corpo possui uma linguagem própria, culturalmente incorporada, intrinsecamente ligada à história individual do sujeito. O ator deve buscar a sua linguagem expressiva, desestruturando-se, reconstruindo-se infinitamente...

Pesquisa é fundamental



Estou num processo de pesquisa para a construção de uma dramaturgia infantil . Quero escrever um espetáculo bem legal sobre a história do "Flautista de Hamelin". Essa história sempre me fascinou. Para qualquer processo, é fundamental o trabalho de pesquisa. Creio que esse seria um dos pontos que distinguem um teatro profissional de um amador. Há dois meses estou vendo vários espetáculos infantis pela internet , lendo várias versões escritas dessa história, e estudando corporeidades diversas. 
A sensançao que às vezes tenho é que o espetáculo está travado... mas é normal. Não há pressa quando queremos construir algo bem feito. O processo de pesquisa deve permear todas as etapas da construção de um espetáculo, desde o seu embrião até sua maturidade. A pesquisa alarga horizontes e promove um processo criativo mais rico. 
Os palcos merecem espetáculos de excelência... o público agradece!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Crítica teatral - "Arruda com Alecrim"


Espetáculo: "Arruda com Alecrim"
Cia Oops!

A alegria explode na apresentação das personagens, em “Arruda com Alecrim”!
É bonito notar como as atrizes Sol Silveira e Thamis Rates, juntamente com os atores João Bosco Amaral e Francisco Nikollay, ganham o público desde o primeiro segundo da  encenação. Todos são carismáticos, movendo-se com habilidade tanto nos momentos mais animados quanto naqueles mais densos.
A direção de Sandro Freitas, é excelente sob todos os aspectos. Ele conseguiu “maestrar” um espetáculo que nos conduz ao interior de Goiás, em muitos momentos nos vemos andando nas ruas tendo contato com moradores interioranos. Uma sensação bastante prazerosa.
Muitas gargalhadas foram arrancadas pelos personagens, que com um texto muito bem escrito, trás uma linguagem bastante peculiar de quem mora na fazenda. Mas , não se trata de uma cidade de interior? Ou a história se dá na fazenda? Vamos pensar de moradores da fazenda que se mudaram para o interior... a miscelânea ficou muito engraçada e cativante.
“Arruda com Alecrim” trata-se de uma história de amor, nos moldes de Romeu e Julieta. Clichê? Jamais! Aí está a genialidade do espetáculo. O conjunto da obra cria um espetáculo inédito, com uma comédia natural, sem apelações, onde fica evidente a inocência de cada tipo apresentado.

Thamis – a atriz em todos personagens que interpretou mostra grande presença de palco. Ela migra do extremo da doçura, para a personalidade colérica. A sensação é que tivemos duas atrizes diferentes no palco... mas não é que era a mesma? A espetacular Thamis!

Francisco – Consegue ser um velho, que tinha tudo pra ganhar a antipatia do público, mas o contrário acontece: todos ficam torcendo para que esteja no palco. E só em aparecer, as risadas começam . Em algums breves momentos ao vê-lo em cena, ainda percebemos resquícios de personagens de outros espetáculos, mas isso se torna insignificante perto do sucesso que Nikollay está em “Arruda com Alecrim”.

João Bosco Amaral – Há 6 anos atrás, quando não o conhecia, tinha outros “ídolos” teatrais. Não consigo ser neutro ao escrever críticas sobre João, pois minha admiração ao seu trabalho me impede de olhá-lo com outros olhos, que não sejam de contemplação. João Bosco em “Arruda com Alecrim” nos emociona, nos passa inocência e pureza, provoca gargalhadas e nos contagia com seu olhar apaixonado pela sua amada. Muito importante salientar sua atuação ao lado de Nikollay, a relação entre pai e filho torna-se um dos pontos altos do espetáculo. O público gosta muito de vê-los juntos... os dois atores? Ou os personagens pai e filho? Não sei , mas as cenas foram maravilhosas entre eles. João Bosco consegue se superar a cada personagem. Qual o limite para esse ator? Tomara que eu nunca descubra...

Sol – Quem é Sol? Não a vemos no espetáculo. O que visualizamos são personagens maravilhosos que nos hipnotiza. A pessoa Sol Silveira desaparece ao entrar um personagem masculino com sua construção vocal e corporal. Não foi preciso força para acreditar que ali estava um rapaz. Mas a mente sempre insiste: ei, não é homem é a Sol! E quando isso acontece, impossível não rir, essa talvez seria a mágica da cena. Ei quando pensamos que a Sol iria até o final do espetáculo como um personagem masculino, eis que surge a Sol feminina, inocente, apaixonada e decidida a conquistar o coração de todos. Sua presença como moça interiorana rica e apaixonada, nos leva a viver com ela, a linda e impossível história de amor de sua vida. Simplesmente... emocionante! Impecável a atuação da grande Sol Silveira.

E não podemos esquecer da musicalidade do espetáculo, com cada ator tocando um instrumento. Perfeito!
Parabéns a todos envolvidos na construção desse maravilhoso espetáculo... GOIANO!!!!!!!!!!!!!

Por Jaime Júnior